terça-feira, 14 de julho de 2015

LUA VERMELHA  E LUA BRANCA: O CICLO MENSTRUAL

Nos Mitos e em muitas Lendas antigas as flutuações do ciclo menstrual na mulher eram percebidos como reflexos das fases e arquétipos lunares. O corpo feminino é lunar, a Lua rege os seios, ovários, útero, menstruação e Gestação; as mudanças físicas sempre são acompanhadas de processos profundos no plano mental, psíquico e emocional. 
A observação do ciclo menstrual e sua relação com as fases lunares deram origem a passagem do tempo, permitia a estruturação e o desenvolvimento da sociedade. A sincronicidade entre fluxo menstrual e ritmo lunar refletia o vínculo profundo entre a Mãe Terra e a Mulher, que guardavam os mistérios da Vida em seu próprio corpo e da Morte. Simbolizado pelo Vaso Sagrado os Mistérios do Ventre, o Enigmático Graal, fonte da vida e da Morte; ocupava um lugar central nas culturas matrifocais. Transformado posteriormente com as religiões, filosofias e valores patriarcais. 
O sangue menstrual foi considerado um fluido da vida e por isso era extremamente sagrado. Na antiguidade vários mitos retratam o sangue menstrual, na Grécia foi chamado de Ambrosia ou vinho tinto sobrenatural, na Ìndia foi chamado de Soma, e era o nome secreto da Grande Mãe. Os índios norte-americanos acreditavam que todos os seres humanos nasceram da mestruação da lua, e hoje ouvimos a menstruação como a Lua da Mulher. No Egito os faraós tornavam-se divinos ao ingerir o sangue de Ìsis. Na India quando uma menina menstrua ela é homenageada por ter florido, e seu sangue é chamado de flor, néctar Kula. Simbolicamente a flor se transforma em fruto, e o sangue uterino era a flor da lua, que preserva em si a herança das futuras gerações. Na tradição tântrica a sacerdotisa que personifica a Deusa deve estar menstruada e o sexo ritual com ela significa reter poder ao iniciado, o poder de Senhor do mundo.
Assim sendo, existia a conexão do sangue com a Lua e suas fases.
A energia da lua crescente era conectada com o fim da menstruação e posterior culminação da ovulação; uma fase cuja face era regida pela Deusa Donzela e seus atributos eram considerados dinâmicos e criativos. 
A Deusa Mãe era conectada a fase da Lua cheia, representavam o auge da ovulação; como  a própria capacidade de nutrir, de sustentar e fortalecer. A diminuição da luz lunar refletia a mudança da ovulação para a menstruação ocorrendo um aumento do poder mágico e da percepção sutil. Fase cuja correspondência arquetípica foi atribuída à Feiticeira, Bruxa ou Maga; fase destinada a criar e destruir, seduzir, encantar ou enganar. 
A Lua Negra e a Anciã regem o período menstrual, interiorizando portanto as energias físicas e a energia é voltada para a introspecção, como o foco torna-se um olhar para o "self"(si mesmo) e toda demanda de energia é direcionada ao mundo espiritual. Nesta fase, extremamento propícia ao potencial criativo, pode-se gerar novas idéias, pois as energias estão totalmente voltadas para o mental.
Nesta classificação não existem divisões fixas para todas as mulheres, no que se refere às fases citadas, contudo, é de extrema importância conhecermos nosso próprio ciclo menstrual, para podermos realmente otimizar a energia dispendida, no que se refere as atividades de maior demanda externa ou interno. Isto é, entender o nosso fluxo é respeitar o ritmo próprio de nosso ser e organismo, escolhendo e selecionando as situações propícias para atuarmos mais no mundo material, com atividades externas, e respeitarmos os momentos propícios para mergulharmos no nosso mundo interior, ao encontro do nosso centro e das nossas verdadeiras necessidades. Aproveitando contudo de forma prática o movimento do nosso ciclo e utilizando- nossa energia de forma favorável e canaliza-a de modo mais consciente. 
Na fase Donzela a mulher é considerada "dona de si", está segura e determinada, tem eficácia nos resultados do seu trabalho, sendo uma fase benéfica para iniciar novos projetos. Seu ritmo favorece ao aprendizado e experiências.
Na fase Mãe a mulher é preparada para abnegação da maternidade; tornando-se amorosa e disposta a assumir responsabilidades, cuidar dos outros, fazer projetos,concretizar idéias, atrair pessoas e compartilhar o amor. 
As energias da Feiticeira é quando o óvulo é liberado, mas não fertilizado. A mulher experimenta o auge do seu poder, da sensualidade e da magia. Suas energias são expandidas e podem se manifestar de forma ambivalente, ora criativas ou ora destrutivas. Sua intuição está ampliada, contudo o foco é reduzido. Fase que requer paciência para concretizar visões e projetos.
A fase da Anciã se expressa durante a menstruação como o aguçamento da percepção intuitiva, da necessidade de introspecção e a maior sensibilidade para sonhos e premonições. Uma fase propícia para o isolamento, diminuição do ritmo, e momento de transmutar as energias, liberar o velho, liberar toxinas; para então entrar no novo ciclo que virá. Fase também propícia para receber mensagens e orientações espirituais. A mulher está no auge de seu poder transcendental, pois torna-se receptora de conhecimentos ancestrais e  literalmente é apta a mexer o caldeirão e beber do cálice sagrado. Verificando o poder da transmutação da energia sexual em experiências extáticas e na expansão da consciência.
A mulher está sempre fluindo entre a luz e sombra, a incidência da luz no aspecto solar e lunar; existindo portanto dois tipos de ciclos menstruais: da Lua Branca (ovulação ocorre durante a lua cheia) ou da Lua vermelha(a ovulação ocorre durante a Lua Negra e a menstruação na cheia); sendo apenas distintas expressões da Energia Feminina mas ambas sagradas e regidas por um propósito de Alma. 
Como no Ciclo da Lua Branca o auge da fertilidade coincide com a plenitude de luz e da Lua cheia, este ciclo canaliza as energias geradoras e nutridoras para a procriação e criatividade. Considera-se a Mulher neste ciclo a Boa Mãe, e está de acordo com as expectativas patriarcais de nossa cultura. 
Já o Ciclo da Lua Vermelha, a auge da Fertilidade coincide com a escuridão lunar, e as energias criativas são canalizadas para o mundo interior, e a maior conexão é com o "Self", sendo assim, a energia sexual canalizada para fins mágicos, espirituais ou transcendentais. A Mulher que segue este fluxo ou este Ciclo é considerada Feiticeira, Bruxa, sendo um aspecto reprimido e ausente de confirmação positiva pela camada profunda do Patriarcado, onde se teme a Magia, considera-se perigoso. 
Podemos considerar que ambos os ciclos surgem no Ciclo Vital de uma Mulher e oscilam de acordo com a fase de Vida, necessidades Vitais e Conexões profundas. São considerados dois pólos na vida de uma Mulher, e muitos movimentos hoje do Sagrado Feminino consideram salutar esta nova Conexão e Resgate Profundo.
Na nossa história, o Cristianismo principalmente herdou e ampliou esse horror patriarcal ao sangue feminino, proibindo as mulheres de comungar ou entrar na igreja quando menstruadas, fazendo com que valores negativos fossem atribuídos e tabus construídos, e o sangue ao contrário de ser considerado um fluxo divino e poderoso da Grande Mãe, passou a ser motivo de vergonha e contaminação, considerado sujo. Com o tempo, na Estrutura da Sociedade Patriarcal, as práticas sagradas com o sangue menstrual foram substituídas por proibições, enclausuramento, e restrições, causando grandes pertubações psíquicas e disfunções fisiológicas na mulher. 
Vemos muitas mulheres aderindo hoje ao In Ciclo, coletor Menstrual, não apenas como uma possibilidade mais econômica, já que descarta o uso de absorventes internos e externos; mas de resgate do contato profundo com o fluxo menstrual, com sangue, com a temperatura corporal. A Mulher ao fazer o uso vai se dando conta que é Cíclica, que é fértil, e que o sangue também pode gerar vida! A mulher resgata o Mana, o poder no seu sangue! Inclusive no uso do sangue nas plantas, na grama, alimentando e nutrindo a terra. Existe um ponto em que se percebe que a terra é um fio condutor que conecta a Mulher Moderna com as suas verdadeiras origens! Somos frutos do Grande Útero de Gaia e a ele retornaremos! "O sangue é a ponte que nos liga às ancestrais e as futuras gerações, mantendo a continuidade da linhagem feminina" (Mirella Faur, O Legado da Deusa).
Sentir pulsar o sangue é sentir a vida, é se conectar ao Universo Interno e Externo, perceber o movimento da luz e da sombra dentro e fora de nós!
Bem-vindas as Feiticeiras, que usam o poder de seu sangue para perceber as múltiplas realidades e transcender para além do Ego: das vaidades, competições, invejas, luxúrias, apegos, medos, raiva, desespero, desânimo, depressão, ansiedade... São muitos os labirintos do Ego e o poder do sangue, do mana, é um impulso para desviar-se de suas armadilhas! Neste ato de conexão profunda,  resgatamos o Poder Feminino do verdadeiro auto-conhecimento e realizamos uma ponte invisível e simbólica entre o Conhecimento dito Científico aos Moldes Patriarcais, ao conhecimento Empírico ligado às nossas raízes intuitivas, selvagens e instintivas. 
Hoje sou uma Mulher que vive o Ciclo da Lua Vermelha, e como Sacerdotisa e Aprendiz do Sagrado Feminino, com humildade, posso relatar que chegou em minha vida o momento profundo de conexão com a Espiritualidade. Aprendi através da Gineterapia, dos trabalhos e experiências com Círculos de Mulheres a canalizar os Arquétipos e empoderar não somente a minha face do Feminino, mas de diversas mulheres que buscam este trilhar, e esta Re-Conexão!
Sobre a Lua Branca e Vermelha, acredito que sejam polaridades femininas que dançam entre si em busca de um equilíbrio.  Movimentos mutáveis e saudáveis do nosso ser, que ora se volta para o Externo, para o Mundo, para os Burburinhos da vida e necessidades Mundanos; e ora se movimenta para criar raízes profundas na Matéria, vivendo o Ciclo da Lua Branca. 
No momento que a  Mulher está mais voltada para o seu Self/ Alma, é quando suas necessidades exteriores estão razoavelmente sanadas, e ela consegue fluir então com reverência e respeito no Ciclo da Lua Vermelha!
Eu reverencio o Meu ciclo e de todas as Sacerdotisas, curadoras, e mulheres consideras Bruxas!


 O oferecimento do Sangue foi um hábito antiquíssimo e sagrado!
Um gesto de Agradecimento ás Dádivas recebidas e o retorno à mãe Terra da energia fertilizadora do Sangue Menstrual. Considerado um poderoso Fluido sagrado, rico em nutrientes e possuindo em si um Poder Mágico foi usado durante milênios para garantir a fecundidade e prosperidade. Era oferecido o sangue menstrual como um presente precioso à Grande Mãe desde tempos remotos, que infelizmente veio a culminar com a sua substituição posterior pelo sangue de animais ou humanos (já em eras dominadas pelo patriarcado). 
Nos tempos contemporâneos é importante oferecermos o Sangue de modo consciente, com respeito e reverência; se possível em meio da Natureza em uma Comunhão verdadeira com a Mãe Terra. O mais importante é a consciência da Sacralidade deste Ato!!!
Nas Rodas do Sagrado Feminino e no Movimento de Conscientização do Uso do Sangue Menstrual, é relevante que todas as mulheres compreendam o valor antigo desta prática e de que este movimento nos aproxime e desperte para uma memória genética de cerimônias ancestrais. 
No contato com o Cálice Sagrado e sangue menstrual renovaremos os nossos laços profundos com a Mãe Natureza e faremos as pazes com a Mãe Terra!


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