No Conto “A Procura da nossa turma: A sensação da
integração como uma benção” nos remete às várias histórias de rejeição pelos
pais a uma criança diferente das demais. Em muitas histórias familiares, o que
geralmente predomina é a aceitação do que é considerado normal, aquilo que é comum
nos modelos seguidos culturalmente. Muitas vezes, as crianças são rejeitadas em
grupos de colegas, ou até pela família, porque não estão correspondendo às expectativas
das pessoas ao redor. Muitas vezes as mães tentam defender os seus filhos e
protegê-los dos preconceitos, mas fracassam por não querer serem exiladas da
comunidade. Podemos pensar nas histórias de muitas mulheres que tentam se
encaixar em rótulos, em estereótipos, com a possibilidade de se salvar de uma
ditadura de ações esperadas. Elas vão se perdendo, e consequentemente se
desconectam com elas mesmas e se afastam da força da mulher selvagem, porque
tornam-se aquilo que não desejam ser. Por sentirem-se oprimidas, aquelas mães
que abandonam o instinto básico de proteção ao seu filho, se tornam mães
ambivalentes e prostradas. Pois estas mulheres vão pouco a pouco desistindo de
confrontar o mundo, e consequentemente, não defendem mais os filhos. Estas mães têm medo de serem rejeitadas pela
comunidade, e podemos inferir que este medo está inserido no Inconsciente
Coletivo contido na psique de todas as nossas antepassadas, que por séculos
foram controladas e reprimidas. Elas tiveram que se dividir a nível psíquico:
ou optavam por serem aceitas ou eram consideradas estranhas e rebeldes.
Esta questão está por detrás da legitimação do casamento, visto que, por gerações, muitas mulheres acreditaram que seriam salvas ao aceitarem seu papel de esposas e boas mães. Elas foram coniventes com os valores morais de que "o ser humano poderia ser aceito a menos que um homem dissesse o contrário". (Clarissa Pinkola Èstes). Para tantas mulheres que estão dentro de um constructo, ou estereótipo de "prostradas", que significa o instinto selvagem reprimido, sofrem da dicotomia da relação de exigências exteriores e as exigências da alma, pois há uma incerteza quanto ao seu verdadeiro valor.
Mas nada está perdido! No fim do túnel existe uma luz, uma esperança para todas as mulheres perdidas de sua essência. Acredito que o movimento de cura está em levantar-se e sair a procura do lugar a que pertencemos. Muitas mulheres que tiveram mães prostradas não devem repetir este padrão de apatia. Devemos quebrar a rede de neuroses e comportamentos repetitivos. Devemos dar lugar a força da Mulher Selvagem para sermos criativas e autênticas!
Nos antigos rituais de passagem, de bênçãos do útero, do parto, era comum que um grupo de mulheres se reunisse para despertar seus instintos com a presença da Mulher Selvagem.
Sendo assim, quando a mulher era tocada por esta presença, ela se fortalecia e conseguia canalizar seus instintos para a sua prole. As anciãs de muitas tribos e culturas eram as guardiãs desta sabedoria, e passavam as bênçãos de forma natural e espontânea.
Nos nossos tempos modernos, o processo de gestação, do parto
e puerpério são muito isolados, acarretando que muitas mães saem dos hospitais
solitárias, rumo ao lar em que permanecem durante longos períodos, como mães
separadas da sua vida instintiva. Acabam cuidando dos seus filhos de forma
automática. Somente despertando a vida instintiva irão despertar uma Mãe
Nutridora.
Muitas mulheres vivem no papel de mães-crianças, imaturas quanto a sua maternidade. Se tornam frágeis na educação de seus filhos, pois não possuem uma identidade bem definida e precisam ir em busca do Self perdido. Como no conto, o patinho feio foge desta mãe prostrada, e vai em busca de seus semelhantes. Ele enfrenta várias hostilidades neste percurso, busca lugares onde possa repousar. Como uma síndrome, ele vai batendo de porta em porta, e sempre é recusado e rejeitado. Deste modo, o patinho feio desperta seu instinto de sobrevivência, e somente nesta condição, consegue superar e ter uma reação ao isolamento. A síndrome do ser diferente faz com que continue buscando amor, mas se colocando em situações de risco e ele encontra uma grande escassez de afeto. Fazendo um paralelo com as mulheres, descobrimos a Síndrome da Vítima, aquela que foi rejeitada e castrada e passa a se comportar a vida inteira neste padrão. Até que alcance a liberdade de ser, com o fio de ligação à Mulher Selvagem!
Muitas mulheres sofrem neste percurso, mas a Cura está no retorno ao amor-próprio, quando realmente conseguem reencontrar o amor, a sua alma, sua essência. Existe o perigo de tropeçar e ficar no comodismo do papel de vítima, mas uma hora a Mulher Selvagem surgirá e a jornada recomeçará!